Todos
os dias quando eu me deslocava para o trabalho.
Eu
me dirigia a mais próxima estação de trem da minha casa.
Durante
a viagem, todo tipo de problema ocupava o meu pensamento e a minha maior
preocupação era chegar logo ao meu destino final.
O
que mais se espera da vida de um homem de negócios?
Havia
uma estação que o trem passava.
Uma
estação igual a outras tantas.
No
entanto, num certo dia algo me intrigou a permanecer o olhar lá.
Às
10h30 de um dia que eu não lembro ao certo.
O
que me intrigava era o olhar de uma bela moça sentada em um dos bancos.
Olhos
de uma tristeza inimaginável.
Tristeza
essa que ultrapassava o vidro que nos separava.
Institivamente
me levantei da cadeira para ir ao seu encontro.
Contudo,
soava alto o apito do trem.
A
minha vontade parou perante a vontade do trem de continuar seu trajeto.
Depois
disso, todo tipo de problema que ocupava o meu pensamento se resumiu a apenas
um, o olhar daquela moça da estação de trem.
Durante
o trajeto da volta meu olhar estava a procurar por ela.
Entretanto,
meus olhos não encontraram aqueles olhos e tive que me contentar apenas com a
lembrança deles.
A
noite passou, nasceu o sol e a minha rotina voltou.
Dois
pães francês e um café expresso.
Me
dirigi a mais próxima estação de trem da minha casa.
Quando
chegou a estação em que meus pensamentos estavam morando.
Avistei
a quem tanto procurava.
Não
demorou muito para eu sair do trem e ir caminhando devagar em sua direção.
A
cada passo que eu dava a tristeza que antes eu sentia estava cada vez mais se
multiplicando.
A
situação me deixava sem reação.
Reação
só tive mesmo quando aqueles olhos que até então não me avistavam se lançaram
em minha direção.
Então,
eu abracei aquela moça.
Foi
o melhor e mais demorado abraço de minha vida.
Por
meio daquele abraço acho que ela dividiu metade do sofrimento comigo
Ficamos
naquele sincero abraço enquanto eu avistava meu trem partindo da estação.
Depois
daquele momento me sentei ao lado da moça e indaguei sobre a sua tristeza.
Ainda
um pouco receosa ela me falou “- Eu estou à espera do meu amor que partiu para
guerra e prometeu que voltaria as 10h30 nessa estação. Já faz 10 anos que eu
lhe espero todos os dias. ”
Instantaneamente
veio a minha mente que a guerra que ela estava comentando havia terminado há 4
anos.
Notei
então uma triste esperança em suas palavras.
Tristes
palavras de uma moça triste e de um olhar triste.
Não
poderia ir embora e deixá-la sozinha.
Pois,
sozinha ela já foi nesses 10 anos.
E
passei o dia ao seu lado a espera de alguém que nunca chegaria.
Aquela
rotina agitada que eu tanto levava me pareceu um desperdício de vida.
O
tempo que eu tanto prezava em economizar, estava eu a gastar todas as minhas
economias naquele dia.
E
mesmo que não fosse mais vê-la depois.
Mesmo
sem saber o seu nome.
Acredito
que já havia feito muito mais pela vida dela do que qualquer outro parente.
E ela também já havia
feito muito pela minha vida.
A
noite passou, nasceu o sol e a minha rotina voltou.
Nos
dias seguintes, moça nenhuma na estação eu avistei.
Todavia,
aquela estação já não me lembrava mais tristeza.
Aquela
estação passou a me lembrar um tipo de amor muito especial.
Um
amor que pouco se vê hoje em dia, mas muito se fala.
Um
amor que é difícil sentir, porém todos são capazes de tê-lo.
Um
amor que não precisa de palavras para existir, basta o gesto.
O mais afetivo e verdadeiro amor.
(Gabriel Araújo)
Quadro "Estação de Marechal Hermes" (2015) de Sousa Rodrigues.