sexta-feira, 8 de junho de 2018

A moça da estação de trem

Todos os dias quando eu me deslocava para o trabalho.
Eu me dirigia a mais próxima estação de trem da minha casa.
Durante a viagem, todo tipo de problema ocupava o meu pensamento e a minha maior preocupação era chegar logo ao meu destino final.
O que mais se espera da vida de um homem de negócios?
Havia uma estação que o trem passava.
Uma estação igual a outras tantas.
No entanto, num certo dia algo me intrigou a permanecer o olhar lá.
Às 10h30 de um dia que eu não lembro ao certo.
O que me intrigava era o olhar de uma bela moça sentada em um dos bancos.
Olhos de uma tristeza inimaginável.
Tristeza essa que ultrapassava o vidro que nos separava.
Institivamente me levantei da cadeira para ir ao seu encontro.
Contudo, soava alto o apito do trem.
A minha vontade parou perante a vontade do trem de continuar seu trajeto.
Depois disso, todo tipo de problema que ocupava o meu pensamento se resumiu a apenas um, o olhar daquela moça da estação de trem.
Durante o trajeto da volta meu olhar estava a procurar por ela.
Entretanto, meus olhos não encontraram aqueles olhos e tive que me contentar apenas com a lembrança deles.
A noite passou, nasceu o sol e a minha rotina voltou.
Dois pães francês e um café expresso.
Me dirigi a mais próxima estação de trem da minha casa.
Quando chegou a estação em que meus pensamentos estavam morando.
Avistei a quem tanto procurava.
Não demorou muito para eu sair do trem e ir caminhando devagar em sua direção.
A cada passo que eu dava a tristeza que antes eu sentia estava cada vez mais se multiplicando.
A situação me deixava sem reação.
Reação só tive mesmo quando aqueles olhos que até então não me avistavam se lançaram em minha direção.
Então, eu abracei aquela moça.
Foi o melhor e mais demorado abraço de minha vida.
Por meio daquele abraço acho que ela dividiu metade do sofrimento comigo
Ficamos naquele sincero abraço enquanto eu avistava meu trem partindo da estação.
Depois daquele momento me sentei ao lado da moça e indaguei sobre a sua tristeza.
Ainda um pouco receosa ela me falou “- Eu estou à espera do meu amor que partiu para guerra e prometeu que voltaria as 10h30 nessa estação. Já faz 10 anos que eu lhe espero todos os dias. ”
Instantaneamente veio a minha mente que a guerra que ela estava comentando havia terminado há 4 anos.
Notei então uma triste esperança em suas palavras.
Tristes palavras de uma moça triste e de um olhar triste.
Não poderia ir embora e deixá-la sozinha.
Pois, sozinha ela já foi nesses 10 anos.
E passei o dia ao seu lado a espera de alguém que nunca chegaria.
Aquela rotina agitada que eu tanto levava me pareceu um desperdício de vida.
O tempo que eu tanto prezava em economizar, estava eu a gastar todas as minhas economias naquele dia.
E mesmo que não fosse mais vê-la depois.
Mesmo sem saber o seu nome.
Acredito que já havia feito muito mais pela vida dela do que qualquer outro parente.
E ela também já havia feito muito pela minha vida.
A noite passou, nasceu o sol e a minha rotina voltou.
Nos dias seguintes, moça nenhuma na estação eu avistei.
Todavia, aquela estação já não me lembrava mais tristeza.
Aquela estação passou a me lembrar um tipo de amor muito especial.
Um amor que pouco se vê hoje em dia, mas muito se fala.
Um amor que é difícil sentir, porém todos são capazes de tê-lo.
Um amor que não precisa de palavras para existir, basta o gesto.
O mais afetivo e verdadeiro amor.
(Gabriel Araújo)

Quadro "Estação de Marechal Hermes" (2015) de Sousa Rodrigues. 

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