Poema das fases da Lua
O nascimento é um momento
que dura eternamente na memória dos outros, não na nossa. No parto, não é só a
criança que nasce. Nasce, também, um novo sentimento nos corações dos pais.
Talvez seja alegria de
mães que olham pela primeira vez os rostos de seus filhos.
Ou talvez, seja
felicidade de pais que se emocionam com os primeiros risos de suas crias.
Essa é a primeira fase da
vida humana, a lua nova.
Na infância, parece que o
tempo não tem fim. O fim do dia é quando estamos brincando e nossos pais nos
chamam para voltar para casa.
Na adolescência, parece
que todo o tempo é pouco. Nessa época, tudo é volátil, as emoções, os gostos,
os sonhos, as horas do dia.
Talvez seja porque na
infância não nos preocupamos com relógios; e na adolescência nos preocupamos
até demais.
Essa é a segunda fase da
vida humana, também chamada de lua crescente.
Na fase adulta, tempo não existe. Trabalho, vida
social e obrigações esgotam as horas do dia.
Ademais, encontramos outras pessoas para dividirmos
nossas preocupações. Dividimos e economizamos o tempo, na vã esperança de
“ganharmos” mais tempo.
Infelizmente, o tempo não se cansa; e contra nossa
vontade continua “andando”.
Essa é a terceira fase da vida humana, a lua cheia.
Na velhice, o tempo desacelera devido à perda de vigor
e disposição de nossos músculos e ossos.
Se no nascimento, as pessoas estão contentes pela
nossa chegada no mundo, na velhice, as pessoas estão tristes pela nossa
partida.
As rugas dos rostos senis são as provas incontestáveis
de que o tempo sempre esteve ao nosso lado em todos os momentos da vida. À espera.
Essa é a última fase da vida humana, conhecida,
também, por lua minguante.
E assim, o ciclo recomeça ....
(Gabriel Araújo)
Quadro "A lua" (1928) de Tarsila do Amaral.