Soneto do arco-íris
Humanos passam por dificuldades.
Dificuldades essas que
cerceiam a vista.
Vistas borradas com
tonalidades cinzas e sofridas.
Sofrimento que geralmente
não é observado por outros olhos.
Olhos nossos ludibriados
diariamente com o belo.
Belo que é uma composição
branca de construção social.
Social que é generalizado
em favorecimento de poucos.
Poucos privilegiados com
dias claros artificiais e arcos-íris feitos de giz.
Gizes não reproduzem
fielmente a natureza das cores.
Cores que em vão tentam
tingir dias gris.
Gris momentos tão
necessários de serem contemplados.
A contemplação é a chave para
aguentar as feridas e as dores.
Pois, para alcançar a intangível
aquarela do arco-íris.
É necessário, primeiro,
esperar passar a chuva de dias molhados.
(Gabriel Araújo)
Quadro "Arco-íris" (1883) de Jules Breton.