sexta-feira, 26 de maio de 2017

Poema: A florista (ou Hortênsia, a flor azul)

"A cultura japonesa diz que as flores azuis representam gratidão, admiração, amor e respeito."

Existia uma pequena loja de flores escondida por entre os grandes prédios do bairro onde morava.
Nessa loja despercebida por todos, havia uma bela florista.
Ela sempre trabalhava sorrindo.
Ela era mais uma flor no meio de todas aquelas outras.
Seu cheiro se misturava com a das flores.
Fazia inveja para orquídeas, girassóis e violetas.
E toda as vezes que eu passava na rua dessa floricultura, estacionava meu carro.
Entrava na loja, inventava uma desculpa para comprar uma flor somente para poder falar com ela, mas ela sabia daquela mentira toda.
Por entre as prateleiras meus olhos procuravam pelos seus olhos.
Aqueles seus olhos azuis possuíam magnetismo.
Ela sorria das minhas atrapalhadas intenções com aqueles seus lábios de pétalas.
A semente do amor estava sendo plantada.
Depois daquele dia, minha vida se dividiu entre trabalho e passeio de mãos dadas.
Eu e a florista passávamos o dia olhando as nuvens.
E em menos de um ano, havia casado com todas aquelas flores.
Todos os dias eram os melhores dias das nossas vidas.
Estava guardando para um momento especial, entregar para ela uma flor azul chamada Hortênsia.
Ela vivia dizendo que amava essas flores, que são nativas da China e do Japão.
Flores que são da mesma cor dos seus lindos olhos.
...

..
Só que existe uma fatalidade nas flores, elas murcham fora da terra.
As flores de plástico não possuem a mesma essência de finitude que as suas irmãs naturais.
E a florista sofreu com uma grave doença.
Que lhe murchou por dentro e por fora.
Retirando dela seu sorriso.
Uma ironia da vida.
Durante os noventa dias que ela ficou internada.
Levei a cada dia uma de suas amigas, uma daquelas flores.
A doença levou parte do seu brilho, parte de sua vida.
O destino queria levar tudo o que eu havia cultivado, deixando o jardineiro sozinho.
No último dia, esperando por uma melhora no seu quadro de saúde.
Levei a Hortênsia.
Esperando que a flor virasse o símbolo de uma recuperação.
Quando entrei no quarto do hospital.
Os olhos daquela flor murcha na cama do hospital se encheram de água.
E eu pude ver aquele lindo sorriso dela novamente.
Era uma despedida.
Depois de entregar a flor, beijei a sua testa massacrada pela doença.
Passei a noite toda segurando suas mãos.
Peguei no sono ao seu lado.
Quando acordei.
Ela já estava morta.
Ela morreu sorrindo e com os olhos fechados.
Uma das mãos estava segurando a minha mão e a outra a Hortênsia.
...

..
Para lhe homenagear.
Construí um santuário de Hortênsia no lugar daquela antiga loja de flores que ela trabalhava.
Distribuí para cada um dos moradores daquele bairro uma muda dessa flor.
Depois, disso o bairro ficou conhecido como o bairro “da flores azuis”.
E todos puderam ver, a partir disso, a beleza que só você conhecia nas Hortênsias.
E por todo o bairro um pedacinho de você se eternizou na paisagem local.

(Gabriel Araújo)





Determinação/Minha criança
(O nome do poema fica a seu critério, caro leitor)

Olá, minha criança
Sei como vão as coisas
Sei o quanto de vezes que você caiu
Sei o quanto chorou
O quanto pensou em desistir...

Mas algo sempre te impediu
Sempre te fez levantar
Secar as lágrimas
Arranjar forças de onde não tinha
E novamente lutar

Pense em todos que te fizeram sorrir
Que você fez sorrir
E imagine
O bem que você faz
Só por estar ali
Perto delas.

Então, agora eu só te peço
Não desista
Não abaixe sua cabeça
E da próxima vez que chorar
Que seja de alegria.

Pois você está cheio de DETERMINAÇÃO.
(Elvis Souza)



sábado, 13 de maio de 2017

Fenda no contínuo espaço-tempo

O amor tem a capacidade de encurtar o tempo, de aproximar as massas, uma fenda no contínuo espaço-tempo.
Uma força invisível mais forte do que muitas forças visíveis, as galáxias.
Uma luz forte que se expande por todas as partes do cosmo, uma supernova.
Uma singularidade, um evento imprevisível, o amor é um fenômeno universal.

O amor tem a capacidade de criar sentidos novos, como as estrelas, de recordar sentidos já existentes, refugiados no pensamento.
Uma força invisível mais forte do que muitas forças visíveis, causa de asfixia.
Uma luz forte que se expande por todas as partes do cosmo e, em si, todas as coisas se renovam.
Uma relação recíproca, um gesto de espera, o amor é quadrimensional.

A paixão é como um cometa.
Que se incendeia quando entra na atmosfera, o flamejante início.
E se esfria rapidamente quando o seu tempo se acaba, seu natural fim.

Já o amor é como um universo, criação de um poeta.
Permanece infinito no imaginário humano, um misterioso vício.
O amor é energia que poucos conseguem ver. O amor é contradição, a qualidade mais encantadora. Ser ao mesmo tempo grandioso como Saturno e modesto como um jasmim.
(Gabriel Araújo)


Em meio a uma crise existencial...
Escreva!

Ser ou não "ser"

Tento compreender
O ser que me tornei
Ou se somente
Deixei de "ser"...

Sinto um enorme vazio
Algo que cresce
A cada momento que passa
Uma espécie de buraco negro
Que absorve Tudo ao meu redor
Me faz machucar quem mais amo
Me faz ser
E deixar de ser

A cada dia uma nova vítima
Segunda, Ana
Terça, Carolina
Quarta...
Isso me destrói

Me olho no espelho
Vejo o que me tornei
Ou o que tomou meu lugar
Vejo seu sorriso sádico
O mesmo que atraí suas vítimas
E percebo que me tornei
Vítima de mim mesmo
E me tornei como você.
(Elvis Souza)